domingo, março 27, 2005

    • Texto de
      Fernanda Young - Parte integrante do romance: “As Pessoas dos Livros”.
    • Estou
      apática. Ao meu redor sacolejam seres que acreditam em troços
      estranhos.
      Posso escrever. Posso me arrumar e ir até a rua, olhar pessoas que se
      sacolejam e acreditam em coisas ditas naturais. Mas somente sinto, em mim,
      um
      sono grande. Bocejo. Um sono de cobertor gigante. Quero ficar embaixo
      das
      plumas
      de ganso. Tão bem escondida quanto um cobertor gigante é
      capaz de
      esconder.
      Parecerei, então, mais um travesseiro sobre a cama.
      Debaixo de
      outros gansos
      mortos. Entre gansos mortos. Uma vez que os
      travesseiros
      também são macios. E
      nunca irei disfarçar este tédio. É ele
      que faz os meus
      lábios serem tão bem
      pintados. Sem tédio, eu não
      conseguiria passar tanto
      tempo sobrepondo tons de
      vermelho, atrás da
      exata cor do meu sangue. Eu sei
      exatamente qual é o meu
      vermelho. E
      chamem-me de adolescente! Amanhã é o meu
      aniversário. Todo dia é meu
      aniversário. Cada vez mais longe da infância.
      Não quero escrever um
      livro para
      ser lido. Gostaria de ter a coragem de
      incendiá-lo. Fim de
      não existir. Nada de
      tolices e poesia. Mas este não é o
      tom. O meu é
      mais escuro ainda que aberto.




Chega chega não aguento mais